22 abril 2009

CNU Escalada - Porto

Fui, pela primeira vez, o equipador de uma prova de escalada, o Campeonato Nacional Universitário. Era o responsável pela criação das vias de escalada para as eliminatórias e finais, masculinas e femininas.

Eu a trabalhar no Sábado

Trabalhei imenso na véspera (com a ajuda do Marco e do Tiago)! Mal dormi e mal estive com a família nesta visita ao Norte. A responsabilidade era muita, a experiência pouca e as coisas não estavam a correr nada bem durante as eliminatórias, com tempos de espera para os atletas muito longos e com muitas pessoas a encadear sem dificuldade as vias que eu fiz. Se às 16h me pudesse tele-transportar para longe dali, faria-o sem grandes hesitações.

No entanto, nas 3h seguintes apenas tive um grande mas compensador stress. Quatro atletas estavam quase empatados na final masculina. Era necessário inventar uma nova via para encontrar o vencedor.

Numa emocionante super-final, Manuel Filipe Carvalho quase que encadeia a via, não deixando dúvidas sobre quem era o mais forte!

Eu com o vencedor: o meu primo Filipe!

Após tanto stress e alguma reflexão, tenho de fazer um balanço extremamente positivo:
  • a qualidade das vias das finais era boa;
  • com vias tão fáceis nas eliminatórias, toda a gente ficou com vontade de competir mais e até participar nas provas federadas nacionais;
  • consegui reagir muito bem à responsabilidade que me era atribuída, quer como júri na hora da decisão, quer como escalador mais experiente nos momentos mais críticos.
Foi deveras surpreendente assumir um papel tão idolatrado por mim há bem poucos anos. O estereótipo do escalador. A referência para muitos daqueles iniciantes da modalidade. Fiz tudo para passar uma boa imagem, para os motivar e para dar um bom exemplo, quer de segurança, quer do prazer que esta modalidade nos pode dar. Espero ter conseguido!

10 abril 2009

Canyoning – Serra de Guara (Barrancos)

Nestas férias da Páscoa fui com o João Graça numa actividade de canyoning organizada para o NME. O objectivo era conhecer e realizar o maior número de barrancos da Serra de Guara, um local muito conhecido para a prática da modalidade.

Depois de uma viagem de 9h, montamos a nossa base no Camping Mascún e logo começamos a preparar o plano de ataque aos barrancos. Aqui fica o resumo das actividades (com links para os posts mais completos):

1º dia: atacamos logo um dos maiores, mais frequentados e frios percursos da região: Barranco Gorgas Negras (link para o post).

A nossa casa por 1 semana

2º dia: já preparados para descer o Barranco Formiga, descobrimos que este estava interdito! Passamos de imediato para aquele que seria o segundo percurso do dia, o Barranco Gorgonchón (link para o post) e fomos escalar em Rodellar da parte da tarde.

João e eu na zona mais encaixada do Barranco Gorgonchon

3º dia: dia de mau tempo. Choveu copiosamente durante mais de 24h. Só saímos da tenda às 15h aproveitando para recuperar fisicamente da tareia que levamos no primeiro dia. De tarde (e quase todas as noites) jogamos Carcassone e preparamos o programa para os próximos dias.

Aspecto do parque de campismo deserto no dia de chuva

4º dia: com o bom tempo realizamos o Barranco Palomo (link para o post) e o Barranco Portiacha no Rio Vero (link para o post).

O nossos mega jantares à base de massa insossa, atum e, às vezes, polpa de tomate doce

5º dia: apesar das previsões de mau tempo, neste dia foi possível fazer o mais famoso e bem cotado percurso da Serra de Guara: o Barranco del Mascún (link para o post). Fechamos com chave d’ouro! No final do dia ainda fui escalar mas sem resultados...

A derreter Nutella para barrar o pão, antes partir para o Barranco del Mascún

09 abril 2009

Canyoning - Barranco del Masún

Este é sem dúvida o ex-líbris da Serra de Guara. É o percurso mais completo e o mais bonito de todos os que fizemos.

Vista sobre a Citadella del Mascún

Mais uma vez saímos de manhã bem cedo pois este seria uma actividade bem longa (cerca de 9 horas) que começa com uma fantástica caminhada que sobe pelo leito do rio remontando depois pela margem esquerda até ao todo da Citadella del Mascún.

Primeiros raios de sol da manhã, no percurso de acesso

Passamos pela aldeia abandonada de Otín, sempre com paisagem fantásticas que justificam a passagem do GR1 por esta zona. Mais uma vez levávamos imenso material às costas! Eu, depois de aprender a lição com o Gorgas Negras, levei as sapatilhas habituais de caminhada e um fato mais leve, preferindo passar mais frio mas ter mais conforto.

Aldeia abandonada de Otín, ao fundo

Depois de mais uns quilómetros, chegamos ao início do Barranco del Mascún (Superior), onde encontramos mais 5 pessoas, prontas a descer. Equipamo-nos rapidamente e fomos os primeiros a iniciar a descida, que começava com um bonito salto.


Depois do salto, uma bonita e aberta cascata com bastante água. Foi a mais divertida da semana! Gostávamos que todos os barrancos tivessem sido assim, com água e cascatas imponentes...


Durante a descida ainda encontramos outra cascata como esta, que nos satisfez a sede por este tipo de obstáculos. Mas o Mascún ainda tinha mais coisas para nos mostrar!


Primeiro foi uma mega gruta de 50 metros, pela qual tínhamos de passar para continuar a descida. Era uma gruta que, apesar de mais pequena, fazia lembrar as caldeiras da Graciosa.

A saída da gruta

Foi um obstáculo diferente e bonito, esta gruta, que se torna uma armadilha muito perigosa no caso de chuvas torrenciais.
Outra técnica nova que não é habitual por Portugal são os tobogãs. Aqui também não abundavam, mas sempre deu para experimentar.

Eu num pequeno tobogã

Depois, para finalizar este troço, veio uma secção mais encaixada, com alguns pequenos rapeis. Num deles, quase se dava um acidente. Ignorando as ancoragens para um pequeno rappel de cerca de 5 metros, decidi destrepar pela cascata e saltar os 3 metros finais para o que parecia ser uma piscina funda. Erro comum e causa de inúmeros traumatismos! A piscina tinha cerca de 30cm de profundidade e eu, com o salto, devo ter ficado uns centímetros mais curto!


Senti um grande choque nos joelhos, pernas e pés e caí para a frente, com a mochila (pesada) às costas. Apenas fiquei uma pequena luxação no dedo grande do pé esquerdo que, devido à água fria, só me "chateou" mais para a noite, já na tenda...

Depois deste episódio chegamos ao fim do Barranco del Mascún Superior para encadear, logo de seguida, a secção inferior, separada por um pórtico natural de rocha:

'El beso', o pórtico que divide o Mascún Superior do Inferior

A secção inferior tinha ainda um pequeno rappel com imensa água que nos deu bastante gozo fazer.


Além deste rappel, apenas registamos mais e mais paisagens fantásticas à medida que víamos o tempo a ficar cada vez pior, ameaçando chover a qualquer momento.

Reflexo (Barranco del Mascún Inferior)

Voltamos a passar pela Citadella del Mascún, desta vez com uma perspectiva mais interessante.

Estivemos quase para terminar o dia com uma via ferrata até ao início do Barrando de la Virgen mas estava "ocupada" com um grupo muito lento de turistas da Semana Santa e decidimos regressar rapidamente ao campismo para regressar ao vale de Rodellar para escalar no sector das Ventanas del Mascún.


João a olhar para a via ferrata, com as Ventanas del Mascún ao fundo

Para finalizar, mais uma história... desta vez feliz:
Na secção mais encaixada deste percurso o João pergunta-me:
- Tens a minha máquina fotográfica?
- Não - respondo eu - tu é que a tens... ainda agora me tiraste fotos.
- Perdi a máquina!
Passamos 10 a 15 minutos à procura da máquina e a tentar escalar a cascata que tínhamos acabado de descer até que aparecem os espanhóis atrás de nós. Fazemos-lhes sinal para procurar uma máquina nas profundezas das piscinas de cima e, passados uns segundos, um deles levanta na mão direita a bolsa preta da máquina! Ai que sorte João!



08 abril 2009

Canyoning - Barranco Portiacha e Argantín

À procura de emoções fortes e descidas vertiginosas, dirigimo-nos para os afluentes do Rio Vero, nomeadamente o Barranco Portiacha com duas imponentes cascatas de 35 metros no seu perfil!


Depois de umas confusões com os mapas de acesso, percipitamo-nos colina abaixo pois segundo o croqui, o percurso iniciava-se logo ali junto ao parque de estacionamento. Chegados ao curso de água mais próximo (Rio Vero), não vimos nenhuma cascata e logo percebemos que estávamos errados. Decidimos percorrer o rio pela margem até encontrar o afluente que buscávamos.

Pequeno afluente do Rio Vero, chamado Barranco Argantín

Encontramos este pequeno afluente e um rappel equipado que logo descemos, na esperança de ter encontrado o Barranco Portiacha. Mas não encontramos nenhum rappel de 35 metros e logo voltamos ao Rio Vero, com as suas imponentes margens!


Neste preciso local encontramos um grupo de pessoas a fazer canyoning que nos explicou como chegar ao Portiacha. Teríamos de voltar ao parque de estacionamento e recomeçar tudo de novo quando percebemos que estacionamos no parque errado! Detectado o erro, remontamos ao parque correcto e logo tudo começou a bater certo. Mesmo ao lado do estacionamento fomos presenteados com dois rapeis suspensos de 35 metros mas, sem água. Zero...


Percebemos porque é que havia uma advertência no croqui para o final do percurso, onde "teríamos de molhar os pés para regressar ao caminho"... Molhar os pés? Mas o que era isto? Outro como o Palomo?


Valeu pelas fotos e, mais uma vez, pelos percursos de acesso e regresso do canyon. O vale do Rio Vero era lindíssimo e as várias vezes que tivemos de o atravessar eram compensadas pela maravilhosa paisagem!

Velho moinho na margem do Rio Vero

Por fim, uma triste história:
Ia eu a descer o Barranco de Argantin, completamente seco, sem fio de água, com a minha máquina fotográfica pendurada no arnês, enquanto saltava de pedra em pedra, por entre a vegetação. Comentei com o João:
- Há dois tipos de pessoas no canyoning: as que vão pelo rio e as que vão pelas margens - criticando o facto dele estar a caminha alegremente pela margem enquanto eu aproveitava ao máximo a pouca qualidade do pequeno afluente.
Segundos depois, num salto mais descuidado, acerto com a máquina em cheio numa das pedras do caminho, partindo o ecrã ao que o João (e eu próprio) se desatou a rir da situação insólita!

Canyoning - Barranco Palomo

Não encontraremos um canyoning igual a este em nenhuma parte do mundo! Espero eu...


Imaginem um canyon onde é proibido tocar na água. Estraga o eco-sistema das plantazinhas que enchem o curso do rio de musgo, dizem eles... Mas acham que os espanhóis interditaram a descida deste barranco? Nada disso! Desataram a furar a rocha toda, colocando cavilhas de ferro e um mega cabo de aço para os "turistas" não perturbarem o eco-sistema!

O resultado está à vista: um canyon faquir!

Descemos rappel após rappel sempre com algum receio e bastante revolta pois fazer rappel nestas condições pareceu-nos bastante perigoso. À mínima escorregadela acabaríamos com uma cavilha espetada nas costas...


Foi intenso, curto e muito quente! Com fato vestido e sem poder molhar os pés sequer, agradecemos o facto deste canyon ser também bastante sombrio. Um conselho: façam-no de Verão... mas a subir pelas cavilhas!


Mas isto tudo até começou muito bem! O acesso era feito pela face de uma enorme parede de rocha, equipada também com cavilhas e cabo de aço (desta vez essenciais) que nos levavam a um anfiteatro lindíssimo que dava início à descida.

Best picture of the whole vacations!

Anfiteatro de início do Barranco de Palomo

Foi sem dúvida uma actividade memorável! Melhor percurso de acesso de sempre, seguido por uma descida surreal... viva a variedade encontrada na Serra de Guara.

06 abril 2009

Canyoning - Barranco Gorgonchón

Este foi o percurso mais intenso que já fiz. Tem apenas 100 metros de distância, chega-se lá em menos de 15min e o regresso são 30. Menos de 2h de actividade.

Em baixo à direita, a fenda (de 20m de altura) do Gorgonchón

O croqui não era nada meigo quanto ao perigos deste rio: muito estreito e sombrio, frio e perigoso com muito caudal e, muita atenção, uma gruta oculta que já tirou a vida a 4 pessoas que inadvertidamente para ela desceram.


Para evitar a gruta teríamos de "unir" aqueles 5 pontinhos que vêm em cima, escalando pelas paredes do rio a 5 metros de altura deste, para depois descer em rappel já mais à frente da gruta oculta e mortífera!


Foi uma tarefa um pouco complicada (e apertada para mim) pois o rio era mais estreito que o meu femur!

Depois deste passo de circo, descemos para a parte mais encaixada e escura do rio, onde tive de me arrastar pela apertada fenda escavada pelo rio (apenas 40cm de largura).

Eu, depois de passar na secção mais estreitas do Gorgonchón

Este não era um rio normal. Era espeleologia de ar livre, com água! Se não acreditam vejam as formações rochosas que se podiam encontrar pelo curto percurso:


Sem dúvida o rio mais interessante que descemos em Guara! Aquele que nos servirá sempre de referência futura quanto à largura de um canyon. Provavelmente nunca iremos estar tão apertados como estivemos aqui.


05 abril 2009

Canyoning - Barranco Gorgas Negras e Barrasil

Tínhamos boas referências sobre o famoso Barranco Gorgas Negras, bem como duas advertências: percurso bastante longo e a temperatura gélida da água devido às suas características sombrias. Teríamos de sair bem cedo para percorrer as 3 horas de acesso previstas no croqui, que agoirava ainda mais 5 horas para o descer e outras 3 a 4 horas para regressar ao ponto de partida, o campismo. Eram 12 horas de actividade no total!


O acesso faz-se através de um percurso pedestre lindíssimo que sobe 2 vales famosos pela a prática de escalada, atravessa a aldeia abandonada de Nasarre e desce até uma garganta enorme e sombria onde começa o rio.


Esta garganta é o principal ponto de interesse do rio e também a porta para um percurso muito longo, apenas com uma escapatória. Esta escapatória serve exclusivamente para nos retirar do leito do rio (apenas 5h depois do início) no caso de chuva, pois recorrer a ela significa voltar a subir toda a montanha até bem perto do início e fazer o percurso inverso. Por isso toda a gente opta por continuar rio abaixo, encadeando o Barranco de Barrasil logo de seguida.


Na véspera fomos pedir informações sobre o rio e aconselharam-nos a não o descer devido ao forte caudal e às baixas temperaturas da água nesta altura do ano... Não queríamos acreditar! Não era possível! Tínhamos de ir lá ver para crer...

O rio tinha muito cauda?
Sim claro, estamos em Abril... E ainda bem porque no Verão não deve ter nenhuma!

A água estava fria?
Isso é relativo: comparando com os rios do Gerês em Novembro ou Fevereiro é sopa!

Mesmo assim, devido ao caudal do rio nesta altura do ano, as poucas cascatas que tinha apresentavam um débito bastante interessante...


Mas nada de muito alto nem muito forte... Nada do que estávamos preparados para enfrentar! Fomos com muita preparação física e bem equipados, levando 3 vezes mais corda que o necessário e material suficiente para re-equipar todo o canyon se necessário! Se somarmos a comida, água e todo o equipamento de sobrevivência que carregávamos, podem facilmente perceber que este seria um percurso para levar qualquer um à exaustão!

Depois das 3 horas de subida, 5 de descida, faltava-nos percorrer as 3 horas do próximo canyoning: o Barrasil.

Se o Gorgas Negras era bastante estreito e sombrio, o Barrasil era bem mais amplo e lúdico. Penso que não tinha nenhum rappel e a paisagem era o seu principal atractivo, com paredes verticais e extra-prumadas nas suas margens a atingirem algumas centenas de metros.


Foi um percurso bastante penoso para mim que, bastante carregado e com botas "novas", me fui arrastando com dores nos pés, no joelho direito e nas costas, provavelmente devido ao peso excessivo que trazia na mochila através deste percurso acidentado. Por sorte haviam troços em que a natação era obrigatória e sempre dava para descansar a metade inferior do corpo!


Longas 12 horas depois estávamos de volta ao campismo, concluindo assim o primeiro dia de actividade na Serra de Guara que... desiludiu um pouco! Teríamos de investigar melhor as próximas opções pois procurávamos alguma adrenalina e não um tareia de 12 horas a caminhar na horizontal sem desníveis... Se não me engano, para os cerca de 5Km que fizemos pelo rio, não devemos ter descido mais de 300 metros. E quanto às advertências dos espanhóis.... são um meninos!