12 junho 2010

Mayencos 2010 - Canyoning

Esta foi a actividade anual do NME, como sempre com o João Graça: Mayencos 2010, um encontro de canyoning nos Pirenéus. O Encontro deve o seu nome a um fenómeno que acontece a partir de Maio, pois o sol fica mais intenso e ao meio dia solar a temperatura aumenta fazendo derreter a neve/gelo das montanhas dos Pirenéus. O nível dos rios aumenta consideravelmente e visivelmente da parte da tarde, algo muito importante (e perigoso) para o canyoning!

Fizemos a habitual viagem de 12h desde o Porto para chegarmos a Murillo de Tou um dia antes do encontro. Aproveitamos para descer o Lapenilla, um rio bastante seco mas bonito. Ao final da tarde começou então a "festa"!

Festa de boas vindas, com vinho e jamon!

Instalamo-nos no parque de campismo e ofereceram-nos umas t-shirts amarelas/verdes fluorescentes, que nos identificavam em qualquer lugar por onde andássemos. Grande sucesso estas t-shirts!

Nem a câmara conseguiu captar a incandescência das t-shirts!

Passamos 2 dias a fazer canyoning, começando pelo Barranco del Lugar, Garganta de Escuaín, Gloces, Furco e acabando no Consusa e Miraval. Tinha chovido imenso e os rios levavam muita água. Além do fenómeno de Maio, tínhamos contra nós a imensa chuva e trovoada que acabou por nos cancelar alguns planos, obrigando-nos a fazer um pouco de turismo pela vila de Aínsa.

Passeio pela vila de Aínsa

Mas no final o balanço foi mais do que positivo. Tivemos a oportunidade de conhecer uma zona nova de canyoning, mesmo ao lado de Guara, num encontro fantástico e muito bem organizado. Pena foi o nosso azar em não ganhar nada num gigante sorteio em que mais de 80% das pessoas trouxeram prémio para casa, desde mochilas, cordas ou fatos de neoprene!

Mega jantar para 300 pessoas, com distribuição de mais de 200 prémios.
A nós não saiu nada!

Depois do encontro ainda ficamos mais dias a fazer canyoning na Serra de Guara, em Rodellar, mas a chuva não nos deixou fazer grandes planos! Mas sempre deu para escalar um pouquinho...

Barranco Lapenilla - Mayencos 2010

Para começar as férias, decidimos descer o Barranco Lapenilla, uma descida que não apresentava dificuldades de maior pois era quase seco, bastante curto e bem perto do local do encontro. As condições ideais para nos ambientarmos ao local!

Tradução: "Venham daí, está tudo bem!"

Estava calor. O rio quase não levava água e nós carregados que nem uns burros, fato de neoprene de 5mm e tudo!



Calor e demasiado material às costas, mas tudo correu bem, pelo menos até ao último e maior rappel. Era necessário unir as duas maiores cordas que trazíamos, uma delas era nova. Ora, o que acontece com as cordas enquanto são novas: grandes sarilhos...


Passamos uns bons 20 minutos pendurados a desensarilhar a corda, mas nada de grave. Tínhamos tempo, era o primeiro dia e não haviam razões para grandes stresses. Afinal as grandes férias de canyoning estavam a começar!

Rappel final do Barranco Lapenilla

Barranco del Lugar + Garganta de Escuaín - Mayencos 2010

A Garganta de Escuaín é um canyon lindíssimo, cujo acesso aconselhado é feito através de um outro canyon mais curto, o Barranco del Lugar. No espírito de "encontro de canyoning" conhecemos e juntámo-nos a 4 valencianos para esta "aventura".

Quatro novos amigos de Valência

O grupo, de seis, funcionou bem e rapidamente ultrapassamos o Barranco del Lugar para chegar a uma fantástica garganta, com muita água que nos levou a um dos locais mais belos do canyoning da região.

João no final do último rappel, o mais bonito!

As cores e a dimensão do rio impressionam. Laranja, amarelo, verde, azul claro e escuro, branco... Parece uma pintura impressionista!

Eu, no mesmo rappel, mas com perspectiva inversa

Que excelente forma de começar o encontro! Muita beleza natural para contemplar e tudo a correr como planeado. Dois canyons numa manhã... isto promete! Seguimos para mais um de tarde!

João Graça, Garganta de Escuaín

Furco + Gloces - Mayencos 2010

Estes são dois pequenos canyons, muito curtos mesmo, mas muito comerciais. Isto só poderia querer dizer uma coisa: muita beleza, muita diversão e poucas dificuldades. E não é que acertámos?

O Gloces fez lembrar o Gorgonchón! Troço curto, muito estreito mas extremamente belo! Parecia que estávamos a caminhar por uma gruta.

Gloces (a única foto de jeito dadas as más condições de luz)

O Furco foi, sem dúvida, o canyon que mais nos surpreendeu. Era ainda mais curto que o Gloces, mas muito concentrado. E a sua beleza.... poderão comprovar pelas fotos.


Não só era belo como divertido. Tinha um tobogã de 8 metros que terminava com um pequeno salto para uma piscina intermédia, antes da cascata que vêem em cima.

João, depois de ter escorregado pelo canal de água

As condições não estavam as ideais para os turistas, havia muita água para eles... mas para nós não! Estava perfeito! Como já disse, era muito curto, mas foi não só dos mais belos e divertidos como um dos mais "lentos" pois paramos imensas vezes para fazer fotos e videos para mais tarde recordar.

João a dobrar a corda!



Vegetação procurando a luz no topo da cascata

Barranco de Consusa

Deixamos para o último dia um dos melhores rios da zona: o Consusa. Existe um modelo de mochilas com este nome e para nós isso é sinónimo de qualidade. Ninguém iria dar um nome a um produto que se quer com boa imagem de um canyoning que não valesse a pena.





A grande particularidade deste canyoning era o grande desnível em tão curto percurso. Em apenas 500 metros de rio descemos 250 metros em mais de 20 rappels quase consecutivos. Ora, para saber qual a altura de cada rappel, tínhamos de ter uma boa cabeça, ou neste caso, um capacete com o croquis colado!



Croquis dos mais de 20 rapeis colado no meu capacete. Uma ideia brilhante!


As previsões atmosféricas não eram as melhores para um rio tão encaixado, sem escapatórias e o efeito "Mayencos" deveria fazer subir o nível do rio lá para o inicio da tarde, por isso fizemos deste rio um exercício de rapidez e concentração, para que tudo corresse bem! Mas dava sempre para tirar uma ou outra foto!

Eu no fundo do rappel da foto anterior, uma parte em que o rio fica subterrâneo.

João numa secção técnica e muito encaixada, com rocha muito polida pela força da água

Última cascata, quase seca

Como podem ver, o nosso medo relativamente à quantidade de água não confirmou, mas a beleza essa estava lá toda! No entanto soube-nos a pouco. Já passamos por grandes aventuras em Portugal, rios técnicos, grandes caudais, água fria, etc. Em Espanha nunca tínhamos tido nenhuma aventura digna desse nome.

Final do Consusa, à hora de almoço. Descida bastante rápida!

Ficamos sem planos para a tarde e a pensar em aventuras! Lembramo-nos das técnicas de águas-bravas (águas vivas) e do Rio Miraval, onde seria possível praticar canyoning desta forma ainda nova para nós. Arrumamos tudo e fomos a correr procurá-lo!


Barranco de Miraval

Miraval tem duas secções distintas: a superior, mais encaixada e técnica e a inferior, que é praticamente um rio aberto. Como procurávamos aventura, dirigimo-nos à primeira.

Não nos esperava nenhum rappel, só uma espécie de "rápidos" por uma zona muito estreita entre rochas, que rapidamente nos tornou prisioneiros do leito do rio. Não conseguíamos escapar pelas margens e voltar para trás, como em todos os canyonings, está fora de questão.

Passamos vários sustos e perigos. Afinal, todo um rio estava a passar por apenas 1 ou 2 metros de leito encaixado entre paredes enormes. E nós, sem outra opção, éramos levados pela corrente. Tudo foi correndo mais ou menos bem, com maior ou menor adrenalina, até que chegamos à parte mais encaixada de todas!!!

Todo o rio teria agora de passar por apenas 1 metro de garganta. Imaginam a turbulência! Para piorar as coisas, tudo isto começava com um pequeno ressalto de meio metro. Teríamos de arriscar a nossa integridade nessa garganta. Durante quanto tempo? Não sabíamos! Conseguíamos ver uns 10 metros de garganta, uma curva de 90º à direita e depois não fazíamos ideia. O que estivesse depois da curva seria algo que teríamos de superar astutamente, pois vindos sem preparação e a alta velocidade deste troço já de si perigoso, não teríamos grandes opções.

Paramos. Ficamos ali a pensar em alternativas:
  1. ficar ali à espera que o caudal baixasse. Poderia demorar dias! O tempo estava instável e o risco do caudal aumentar era maior que a probabilidade dele vir a descer.
  2. ficar ali à espera que viesse mais alguém. Pois, mais gente maluca que se metesse num buraco sem saída sem saber
  3. escalar a margem ou voltar para trás. Impossível. As paredes estavam molhadas e polidas, sem sítio onde agarrar, para além de medirem mais de 20 metros, que teríamos de escalar sem protecções de segurança.
  4. hum... pois... atirarmo-nos para a boca do lobo e esperar que ele nos cuspa vivos do outro lado da curva!
Escolhemos a última opção. Nós queríamos aventura, não queríamos? Então íamos tê-la. Não me lembro bem porquê, mas eu seria o primeiro a "saltar" (João, como me convenceste?). Coloquei-me em posição, preparei-me, olhei uma última vez para o céu e vi a luz! Não a luz do céu, pois o rio mais parecia uma gruta, bastante escura. Vi sim uma plaquete! Algo que nos poderia tirar dali com vida. Mas para que servia a plaquete? Rapidamente percebemos. Teríamos de escalar até ela (+/- 5 metros), segurarmo-nos, já por cima do pequeno ressalto e rappelar até ao nível do rio novamente, já depois do ressalto. Assim conseguiríamos atravessar toda a zona perigosa, fazendo oposição entre as duas paredes, tal como o exemplo  da foto abaixo mas ambiente mais escuro.

Eu no Gorgonchon, no ano passado

Úfa... já nos livramos desta! Rapidamente chegamos a uma secção mais aberta do rio, onde poderíamos escapar pela margem esquerda e finalmente respirar e tirar fotos. Sim, porque com toda a tensão não houve cabeça fria para registar o momento para a posteridade.

João na saída da parte mais encaixada do Miraval.

Estão a ver bem toda esta água? Sim, este rio passava em zonas estreitas com pouco mais de um metro. Imaginem a "porrada" que nós levamos. Agora imaginem toda esta água a passar por apenas 1 metro de leito, durante mais de 10 metros. Agora multipliquem por mil e têm uma ligeira percepção da alhada em que nos metemos. Queríamos aventura e aqui está ela.