12 junho 2010

Barranco de Miraval

Miraval tem duas secções distintas: a superior, mais encaixada e técnica e a inferior, que é praticamente um rio aberto. Como procurávamos aventura, dirigimo-nos à primeira.

Não nos esperava nenhum rappel, só uma espécie de "rápidos" por uma zona muito estreita entre rochas, que rapidamente nos tornou prisioneiros do leito do rio. Não conseguíamos escapar pelas margens e voltar para trás, como em todos os canyonings, está fora de questão.

Passamos vários sustos e perigos. Afinal, todo um rio estava a passar por apenas 1 ou 2 metros de leito encaixado entre paredes enormes. E nós, sem outra opção, éramos levados pela corrente. Tudo foi correndo mais ou menos bem, com maior ou menor adrenalina, até que chegamos à parte mais encaixada de todas!!!

Todo o rio teria agora de passar por apenas 1 metro de garganta. Imaginam a turbulência! Para piorar as coisas, tudo isto começava com um pequeno ressalto de meio metro. Teríamos de arriscar a nossa integridade nessa garganta. Durante quanto tempo? Não sabíamos! Conseguíamos ver uns 10 metros de garganta, uma curva de 90º à direita e depois não fazíamos ideia. O que estivesse depois da curva seria algo que teríamos de superar astutamente, pois vindos sem preparação e a alta velocidade deste troço já de si perigoso, não teríamos grandes opções.

Paramos. Ficamos ali a pensar em alternativas:
  1. ficar ali à espera que o caudal baixasse. Poderia demorar dias! O tempo estava instável e o risco do caudal aumentar era maior que a probabilidade dele vir a descer.
  2. ficar ali à espera que viesse mais alguém. Pois, mais gente maluca que se metesse num buraco sem saída sem saber
  3. escalar a margem ou voltar para trás. Impossível. As paredes estavam molhadas e polidas, sem sítio onde agarrar, para além de medirem mais de 20 metros, que teríamos de escalar sem protecções de segurança.
  4. hum... pois... atirarmo-nos para a boca do lobo e esperar que ele nos cuspa vivos do outro lado da curva!
Escolhemos a última opção. Nós queríamos aventura, não queríamos? Então íamos tê-la. Não me lembro bem porquê, mas eu seria o primeiro a "saltar" (João, como me convenceste?). Coloquei-me em posição, preparei-me, olhei uma última vez para o céu e vi a luz! Não a luz do céu, pois o rio mais parecia uma gruta, bastante escura. Vi sim uma plaquete! Algo que nos poderia tirar dali com vida. Mas para que servia a plaquete? Rapidamente percebemos. Teríamos de escalar até ela (+/- 5 metros), segurarmo-nos, já por cima do pequeno ressalto e rappelar até ao nível do rio novamente, já depois do ressalto. Assim conseguiríamos atravessar toda a zona perigosa, fazendo oposição entre as duas paredes, tal como o exemplo  da foto abaixo mas ambiente mais escuro.

Eu no Gorgonchon, no ano passado

Úfa... já nos livramos desta! Rapidamente chegamos a uma secção mais aberta do rio, onde poderíamos escapar pela margem esquerda e finalmente respirar e tirar fotos. Sim, porque com toda a tensão não houve cabeça fria para registar o momento para a posteridade.

João na saída da parte mais encaixada do Miraval.

Estão a ver bem toda esta água? Sim, este rio passava em zonas estreitas com pouco mais de um metro. Imaginem a "porrada" que nós levamos. Agora imaginem toda esta água a passar por apenas 1 metro de leito, durante mais de 10 metros. Agora multipliquem por mil e têm uma ligeira percepção da alhada em que nos metemos. Queríamos aventura e aqui está ela.

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