28 setembro 2008

Canyoning - Rio Poio

Este será o relato de uma das maiores aventuras que já tive.

Foi com pouca experiência, pouco material, pouco conhecimento do rio, mas muita motivação que eu, o Tiago e o Marco decidimos descer "um dos rios mais extensos e técnicos do continente". Pelo croqui ficamos a saber que eram necessárias cinco a seis horas para o descer, mais 1h para subir uma enorme conduta que nos levava do carro (estacionado no final do rio) até ao início do da descida, na aldeia vizinha.


Tivemos a oportunidade de evitar esta etapa, levando 2 carros, mas eu achei que desvirtuava um pouco o canyoning, uma vez que gosto dos acessos através de condutas de mini-hídricas.


Levantamo-nos às 6h da manhã, para chegar ao rio às 8h00 e iniciar a subida meia hora depois. A subida não me desiludiu e proporcionou imagens fantásticas, além de nos fazer o aquecimento para a actividade... ou melhor, o sobre-aquecimento!


Estavam previstas 6h para a descida. Avisamos a família que estaríamos incontactáveis até às 17h, dando já 2h de folga, para não ficarem preocupados desnecessariamente, caso nos atrasássemos.


Às 9h30 estávamos prontos para iniciar a descida do rio mais difícil de Portugal continental, numa manhã bastante fria e com um caudal já bastante generoso... Depressa chegamos ao primeiro rapel que confirmou a dificuldade do rio. Mas nada fazia prever a "zona mais encaixada" que se aproximava.


Chegamos a um troço de várias cascatas seguidas, todas numa zona muito muito estreita do rio. A água era inevitável. As escapatórias em caso de problemas inexistentes. O nosso material, assim como a nossa experiência e formação era mínima. A minha responsabilidade era enorme. Cabia-me a mim descer sempre primeiro, identificando todos os perigos da descida e guiando o Marco, que descia sempre em segundo lugar, ficando o Tiago com a responsabilidade de desmontar tudo.


Logo no primeiro rapel da zona encaixada, apanhamos com muita água na recepção da cascata que faz com que o Tiago ganhe bastante medo a passagens mais aquáticas como esta. Digamos que ficou aflito!

Depois deste primeiro rapel já não tiramos mais fotos enquanto não chegamos a terreno mais aberto! Estávamos sob pressão. A dificuldade era muito grande e já no último rapel da zona encaixada, tivemos de fazer um desvio para evitar a água, uma manobra técnica que eu não sabia fazer, pelo que tivemos de improvisar. A segurança ficou a perder e não havia espaço para erros. Tudo correu bem e lá conseguimos relaxar, quando voltamos a ver o sol...


Nesta foto podemos ver o último rapel de 30 metros, com demasiada água, vinda de uma sequência de 5 cascatas que mal se vêem, pois o rio fica mesmo estreito! Mas sim... nós viemos daquele buraquinho de onde vem a água. E para chegar ao local da foto ainda tivemos de escalar algo bem técnico e complicado!


Descemos então o último rapel que nos tirava daquela zona sem escapatórias. No fundo pode-se ver a zona encaixada, bastante escura. Seguimos, caminhando pelo leito do rio, até uma zona aberta, com sol, onde aproveitamos para almoçar. Já eram 14h! Tínhamos demorado 4h30 a chegar a meio do rio, mas era com certeza a zona mais lenta do mesmo.

O Tiago, ainda em choque devido ao contacto com tanta água, não queria continuar. Queria subir por uma das margens do rio, por uma escapatória. Seria uma subida inumana, muito íngreme. A alternativa seria continuar, rio abaixo, tendo apenas mais 1 rapel complicado e um ou outro mais simples. Por 2 votos contra 1, decidimos continuar dentro do rio, mas com passo acelerado, pois estávamos atrasados. Se a previsão era de 6h, nós prevíamos atrasar cerca de 1h...

Andamos muito, em terreno difícil com muitos blocos e destrepes, assim como um ou outro rapel. Chegamos finalmente ao maior rapel do rio, que se nos apresentou com muita água. O Tiago voltou a entrar em stress por causa da água e, após alguma indecisão, que nos atrasou ainda mais, lá nos fizemos à dita cuja.


Foram mais uma vez momentos de grande pressão mas que conseguimos superar com o nosso escasso material, sem margem para erros. Muita concentração era a nossa maior virtude e arma para combater a dificuldade do rio.

Eram 18h e ainda faltava mais um rapel, segundo o croqui, para terminar a descida. Não havia rede de telemóvel. Tínhamos agora a pressão da preocupação da família, que não nos conseguia contactar. Andamos cerca de 1h, rio abaixo, sem encontrar qualquer rapel. Estava a ficar escuro. O Tiago estava agora com pavor da noite. Apesar de elementarmente preparados para passar a noite no rio, caso fosse necessário, era um cenário que não agradava a ninguém, muito menos ao Tiago.

Às 19h chagamos finalmente ao último rapel da descida, ainda com luz. Daqui já conseguimos telefonar à família que estava já a rezar por nós! Foi muito complicado para eles ficarem sem notícias nossas durante 2h. Mas ainda não tinha acabado, apesar de que, após o último rapel já nada me preocupava. É perfeitamente possível caminhar pelo rio à noite com frontais (lanternas para a cabeça). Mas o Tiago não pensava assim e continuava apavorado com a proximidade da noite.


Eu fiquei exausto. Já mal conseguia caminhar e o meu ritmo decresceu bastante, ao contrário do Tiago que queria sair dali o mais depressa possível. Mais de 1Km depois do último rapel, às 20h, chegamos finalmente à encosta da margem esquerda que nos levava de volta ao carro, já de noite!


Dez horas depois de começar a descer o rio (sem contar com a hora de demoramos a subir a conduta), chegamos ao carro, com um final feliz para uma das aventuras mais arriscadas que já realizei. Tudo correu bem e mesmo que tivesse corrido mal, penso que saberíamos contornar a situação, mas não sem um custo bastante grande para a família que ficou de fora, sem notícias!

Depois de descer este rio já podemos dizer que fazemos canyoning no verdadeiro sentido do desporto. Este rio é realmente um canyon. A partir de agora teremos esta experiência como referência e nada será como dantes: compraremos mais material, faremos mais formação e não nos enfiaremos sozinhos em rios desconhecidos e tão complicados como este. Foi uma boa lição aprendida, não acham? :)

Mais fotos aqui.

PS: mais tarde descobri que este canyoning costuma ser feito em 2 dias, usando a tal escapatória íngreme.

3 comentários:

Anónimo disse...

Bem experiencia que nao vou esquecer nunca, palavras para que, está ai tudo dito =D

Anónimo disse...

Que aventura!

C'a gandas malucos..... :-)

Grande Abraço
Rui Cordeiro

Jorge Nogueira disse...

Olá,
Uma actividade para não esquecer!
O importante é não desistir ;)
Tudo está bem, quando acaba bem :)
Boas Festas e Feliz Ano Novo!
Um grande abraço

P.S. Podem ver as nossas aventuras em :
http://ecdcportugal.blogspot.com